PAIXÃO: ORAÇÃO NO HORTO
A oração de Jesus no Horto de Getsêmani, que é o pórtico da Paixão, começa com uma palavra que é a chave para compreender tudo o mais: Abá, Pai, tudo te é possível… (Mc 14, 36). São Marcos quis conservar-nos a expressão original que Cristo utilizou naquela noite para começar o seu diálogo com o Pai. Abá é uma palavra aramaica – essa era a língua que Jesus falava – usada pelas crianças, e também por adultos, para se dirigirem carinhosamente aos pais. É equivalente às nossas expressões carinhosas “papai”, “paizinho”…
O detalhe é revelador. Por ele percebemos que, antes de pedir nada e antes de aceitar qualquer coisa, no coração de Cristo existe uma convicção, que nEle é clarividência absoluta: a de que Deus é um Pai infinitamente amoroso e, portanto, tudo o que dEle possa vir é bom; tudo é – ainda que por modos e vias cheios de mistério – um dom de amor paterno.
Esta plena lucidez é, nEle, prévia a qualquer reação ou atitude. Jesus sabe de antemão que tudo o que vier do Pai será um bem. Não hesita em abrir-lhe confiante o coração, que reluta e se estremece perante o cálice da dor. Mas está, simultaneamente, pronto para aceitar seja o que for – seja feita a tua Vontade –, com disponibilidade total. Jesus “consumará” a vontade do Pai ao lançar o último suspiro na cruz; e lançá-lo-á com paz – ousaria afirmar que com íntima alegria, compatível com as lágrimas –, como que a exclamar: é bom, é bom ter cumprido a tua vontade, Pai, é maravilhoso poder morrer dizendo: tudo o que me pediste está terminado, completo, consumado (cf. Jo 19, 30).
Esta disposição, que na alma de Cristo nascia da clarividência decorrente da união da sua Humanidade com a segunda pessoa da Santíssima Trindade, em nós tem que provir da luz da fé. É sempre a partir da fé que se torna possível entender, amar e até mesmo desejar a cruz que Deus, nosso Pai, nos quiser enviar.
Um homem pode não estar entendendo nada quando o sofrimento o envolve como uma venda escura; mas, se é um filho de Deus que tem fé, sabe – sabe, mesmo sem o compreender – que toda a cruz querida ou permitida por Deus Pai é positiva, é construtiva, é uma cruz que salva. E, como São Paulo, pode afirmar com segurança: Ora, nós sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus! (Rom 8, 28).
F. Faus: Do livro Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens
A oração de Jesus no Horto de Getsêmani, que é o pórtico da Paixão, começa com uma palavra que é a chave para compreender tudo o mais: Abá, Pai, tudo te é possível… (Mc 14, 36). São Marcos quis conservar-nos a expressão original que Cristo utilizou naquela noite para começar o seu diálogo com o Pai. Abá é uma palavra aramaica – essa era a língua que Jesus falava – usada pelas crianças, e também por adultos, para se dirigirem carinhosamente aos pais. É equivalente às nossas expressões carinhosas “papai”, “paizinho”…
O detalhe é revelador. Por ele percebemos que, antes de pedir nada e antes de aceitar qualquer coisa, no coração de Cristo existe uma convicção, que nEle é clarividência absoluta: a de que Deus é um Pai infinitamente amoroso e, portanto, tudo o que dEle possa vir é bom; tudo é – ainda que por modos e vias cheios de mistério – um dom de amor paterno.
Esta plena lucidez é, nEle, prévia a qualquer reação ou atitude. Jesus sabe de antemão que tudo o que vier do Pai será um bem. Não hesita em abrir-lhe confiante o coração, que reluta e se estremece perante o cálice da dor. Mas está, simultaneamente, pronto para aceitar seja o que for – seja feita a tua Vontade –, com disponibilidade total. Jesus “consumará” a vontade do Pai ao lançar o último suspiro na cruz; e lançá-lo-á com paz – ousaria afirmar que com íntima alegria, compatível com as lágrimas –, como que a exclamar: é bom, é bom ter cumprido a tua vontade, Pai, é maravilhoso poder morrer dizendo: tudo o que me pediste está terminado, completo, consumado (cf. Jo 19, 30).
Esta disposição, que na alma de Cristo nascia da clarividência decorrente da união da sua Humanidade com a segunda pessoa da Santíssima Trindade, em nós tem que provir da luz da fé. É sempre a partir da fé que se torna possível entender, amar e até mesmo desejar a cruz que Deus, nosso Pai, nos quiser enviar.
Um homem pode não estar entendendo nada quando o sofrimento o envolve como uma venda escura; mas, se é um filho de Deus que tem fé, sabe – sabe, mesmo sem o compreender – que toda a cruz querida ou permitida por Deus Pai é positiva, é construtiva, é uma cruz que salva. E, como São Paulo, pode afirmar com segurança: Ora, nós sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus! (Rom 8, 28).
F. Faus: Do livro Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens
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